Garantir que uma empresa esteja em conformidade com as leis, regulamentos e normas aplicáveis é um verdadeiro desafio. Mas é a base para proteger as organizações e as pessoas contra desvios de condutas, irregularidades e ilicitudes.
A implementação e o progresso das leis anticorrupção, juntamente com as investigações de irregularidades no Brasil nos últimos anos, têm incentivado empresas de todos os tamanhos a criar códigos internos de conduta para cumprir com as normas. Esse processo é chamado de compliance.
Ainda assim, muitas empresas enfrentam dificuldades ao integrar práticas de compliance em suas estratégias de gestão de riscos em práticas concretas e integradas ao dia a dia.
Ao longo dessa leitura, você verá como aplicar essa combinação de forma prática e eficiente, seguindo 6 passos que ajudam a alinhar conformidade, segurança e estratégia operacional.
O que é risco de conformidade?
Risco de conformidade é a possibilidade de uma empresa descumprir leis, normas regulatórias, políticas internas ou padrões éticos, o que pode gerar penalidades legais, prejuízos financeiros e danos à reputação.
Esses riscos estão presentes em praticamente todas as áreas da organização: do setor financeiro ao jurídico, passando por compras, RH e tecnologia.
Segundo um levantamento da SAP Concur, quase metade das empresas brasileiras (49%) não possuem políticas claras de compliance para áreas críticas como reembolsos, viagens corporativas e contratações. Isso expõe as organizações a falhas operacionais, fraudes internas e autuações fiscais ou trabalhistas.
Além disso, apenas 26% das empresas dizem monitorar regularmente suas despesas e processos de forma estruturada, o que indica uma cultura de conformidade ainda frágil.
Esses dados revelam o quanto a ausência de controles sólidos pode comprometer toda a cadeia de governança da empresa. Além de reforçar, a importância de tratar o risco de conformidade como parte integrante da gestão estratégica e preventiva do negócio.
Ter uma abordagem madura sobre esse tipo de risco não significa apenas evitar multas. Significa proteger a integridade da empresa, fortalecer sua credibilidade no mercado e garantir decisões mais responsáveis em todos os níveis.
Qual é o papel do compliance na gestão de riscos?
O termo compliance pode ser entendido como a garantia de que as atividades e processos estejam alinhados às normas e procedimentos legais, tanto externos quanto internos à organização.
Ou seja, a empresa deve seguir o que a lei exige e também estabelecer políticas internas e uma cultura organizacional que evitem fraudes, multas, potenciais danos à reputação da organização e outros riscos.
Esses riscos podem ser de diversas naturezas, tais como:
- Risco legal: não cumprimento da legislação e dos códigos de conduta que regem as operações comerciais.
- Risco operacional: a empresa utiliza recursos ineficientes (humanos e operacionais) que podem gerar prejuízos.
- Risco de reputação: devido à má conduta, a empresa pode manchar sua reputação aos olhos dos clientes, fornecedores e da sociedade em geral.
Quando se trata do papel do compliance na gestão de riscos, podemos dizer que as organizações que executam a gestão do risco de conformidade avaliam o impacto potencial do risco de conformidade e determinam como avançar para conter ou reduzir o risco.
Embora os erros sejam inevitáveis, o objetivo da gestão do risco de conformidade é reduzir o risco operacional de não conformidade dentro de um limite aceitável definido pelas partes interessadas e pelos reguladores.
3 exemplos práticos de compliance na gestão de riscos
A seguir, veja situações fictícias inspiradas em contextos reais que mostram como o compliance, quando bem aplicado, é capaz de prevenir falhas legais, operacionais e reputacionais.
Esses exemplos ilustram como a gestão de riscos precisa estar integrada à rotina de tomada de decisão no departamento jurídico, especialmente na contratação e relacionamento com terceiros.
1. Risco legal: setor de papel e celulose
Uma indústria de papel firmou contrato com uma transportadora terceirizada para escoar sua produção até os centros de distribuição. No entanto, a empresa não verificou se a transportadora estava em dia com as exigências da legislação trabalhista e ambiental.
Um ano depois, a terceirizada foi autuada por manter motoristas em jornadas ilegais e por descarte irregular de resíduos no trajeto. Como contratante solidária, a indústria foi incluída na ação civil pública e sofreu multas, embargos e danos à imagem institucional.
A ausência de cláusulas de conformidade e a falta de due diligence no processo de contratação deixaram o jurídico sem argumentos para se proteger.
2. Risco operacional: setor de fertilizantes
Uma empresa de fertilizantes decidiu expandir sua produção e passou a operar com novos fornecedores de insumos químicos. Pressionada por prazos e sem processos claros de onboarding, a empresa não integrou o novo fornecedor ao seu sistema de controle logístico.
O resultado foi um erro no tipo de insumo entregue: um composto com características incompatíveis com o processo de formulação dos fertilizantes. A falha gerou interrupções na produção, desperdício de matéria-prima e prejuízo milionário com devoluções e retrabalho.
O problema não estava no fornecedor em si, mas na ineficiência operacional interna, que ignorou o risco de não treinar nem acompanhar a nova parceria desde o início.
3. Risco de reputação: setor de educação
Uma instituição de ensino superior mantinha um contrato com uma empresa de tecnologia para fornecer um sistema de gestão acadêmica. Nos bastidores, essa fornecedora estava envolvida em uma investigação de uso indevido de dados pessoais de alunos em campanhas de marketing.
A notícia ganhou repercussão nas redes sociais e a conexão entre as duas empresas rapidamente veio à tona. Apesar de não ter cometido o ato, a universidade foi duramente criticada por manter relações comerciais com uma empresa envolvida em práticas questionáveis.
A falta de uma política de compliance com critérios reputacionais para seleção de fornecedores expôs a instituição a uma crise que afetou sua credibilidade junto a pais, alunos e reguladores.
Quais os benefícios do compliance na gestão de riscos?
Após entender o conceito e a relação entre gestão de riscos e compliance é necessário destacar os principais benefícios que o seu negócio pode conquistar com eles.
Garantia de conformidade legal e regulatória
O principal benefício do compliance é assegurar que a empresa esteja em conformidade com todas as leis e regulamentos aplicáveis. Assim, é possível evitar penalidades severas e proteger a reputação da organização.
Fortalecimento da governança corporativa
Um robusto programa de compliance fortalece a governança corporativa ao garantir que as decisões empresariais sejam tomadas com base em práticas éticas e responsáveis. Isso aumenta a confiança dos stakeholders e melhora a imagem da empresa no mercado.
Tomada de decisões mais estratégica
O compliance traz uma visão clara dos riscos associados a diferentes ações e decisões empresariais. Ele permite que a gestão tome decisões com base em informações sólidas, confiáveis e estratégicas.
Com isso, o gestor consegue reduzir a exposição a esses eventuais perigos que a empresa enfrenta. Inclusive, é possível observar uma melhora na eficiência operacional e na sustentabilidade do negócio a longo prazo.
Como fazer compliance na gestão de riscos com eficiência?
Implementar um programa que visa garantir a conformidade das ações da empresa depende da adoção de estratégias bem estruturadas. Abaixo, listamos 6 dicas essenciais para integrar compliance na gestão de riscos de forma eficaz. Continue a leitura!
1. Compreenda a integração entre compliance e gestão de riscos
A primeira etapa é reconhecer que compliance e gestão de riscos são interdependentes. A integração dessas áreas permite uma visão holística dos riscos e facilita a implementação de controles que atendam às necessidades de conformidade e a mitigação de riscos.
Portanto, é necessário promover uma cultura organizacional que valorize ambas as práticas como parte do cotidiano dos colaboradores.
2. Desenvolva políticas e procedimentos claros
A ação vai ajudar as atividades e comportamentos esperados dos colaboradores. Essas diretrizes devem abranger todas as áreas da empresa.
As políticas precisam passar por processos que vão desde operações mais simples até a governança corporativa. Além disso, elas devem ser revisadas e atualizadas regularmente, sempre com o foco de refletir mudanças nas regulamentações e no ambiente de negócios.
3. Crie um programa de compliance robusto
Um programa de compliance eficaz deve incluir treinamento contínuo, comunicação clara e um canal seguro para denúncias de irregularidades.
O treinamento deve ser adaptado às necessidades específicas de cada departamento. Dessa forma, todos os funcionários conseguem compreender suas responsabilidades em relação ao compliance.
4. Identifique, avalie e monitore os riscos
Identificar e analisar detalhadamente os perigos que rondam a empresa é um processo contínuo que deve envolver todas as áreas da organização. Portanto, o gestor deve utilizar ferramentas de avaliação de riscos para mapear e priorizar os perigos em potencial.
Além disso, é importante monitorar constantemente esses riscos e revisar suas estratégias de mitigação, conforme necessário, com o intuito de garantir que as práticas de compliance e gestão de riscos permaneçam eficazes.
5. Estabeleça controles internos eficientes
Desenvolva e implemente controles internos que possam detectar, prevenir e corrigir violações de compliance. Esses controles devem ser integrados aos processos operacionais da empresa e auditados regularmente para garantir sua eficácia.
Uma forma de fazer isso é investir em uma boa gestão de contratos. Controles bem estabelecidos ajudam a garantir que a empresa opere dentro dos padrões legais e regulatórios.
6. Utilize tecnologias para a automação dos processos de compliance
A automação de processos de compliance aumenta significativamente a eficiência e a precisão das suas práticas. Algumas ferramentas ajudam a monitorar e reportar conformidade, além de facilitar a gestão de documentos e a auditoria.
A utilização de tecnologias avançadas, como inteligência artificial e aprendizado de máquina, fornece insights valiosos e antecipam possíveis riscos.
Principais desafios da gestão de riscos e compliance — e como superá-los
Manter um programa de compliance sólido vai além de implementar políticas. É preciso enfrentar alguns desafios recorrentes que surgem na prática e encontrar formas de superá-los com estratégia, clareza e tecnologia. Abaixo, listamos os mais comuns e como lidar com cada um:
1. Resistência cultural e mudança organizacional
Muitas vezes, colaboradores enxergam o compliance como algo burocrático ou desnecessário, especialmente, se não compreendem seu valor prático. Para contornar esse obstáculo, é essencial que a liderança dê o exemplo, que a cultura de integridade seja reforçada com treinamentos constantes e que os próprios colaboradores participem da construção das regras e fluxos internos.
2. Complexidade regulatória
As leis e regulamentações mudam com frequência e variam de setor para setor, o que torna difícil acompanhar todas as exigências. A melhor forma de mitigar esse risco é combinando consultoria especializada com o uso de tecnologias que alertem automaticamente sobre mudanças regulatórias, mantendo a empresa sempre atualizada e em conformidade.
3. Gestão de dados e privacidade
Em um cenário regulado por leis como a LGPD, proteger dados sensíveis virou prioridade. Isso exige políticas de privacidade claras, controles de acesso eficientes, uso de criptografia e auditorias periódicas. A ausência desses mecanismos expõe a empresa a riscos legais e reputacionais.
4. Comunicação e transparência
Sem comunicação clara, mesmo as melhores políticas podem falhar. Criar canais de denúncia seguros e anônimos, promover uma cultura de abertura para feedbacks e manter os colaboradores informados sobre mudanças nas diretrizes são práticas essenciais para que o compliance se mantenha vivo na rotina da empresa.
Superar esses desafios exige um olhar contínuo sobre os processos e uma abordagem realista, ajustada ao perfil da organização. E mais do que isso: tecnologias, como o CLM, e clareza operacional são aliadas indispensáveis para garantir que a gestão de riscos e compliance funcione de verdade, e não apenas no papel.
Por fim, é importante entender que o compliance na gestão de riscos é um assunto que deve ser pautado com muita cautela, sempre levando em consideração as necessidades e perfil da empresa, além de contar com a tecnologia para facilitar todo esse processo.
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