A pressão por redução de custos e por resultados concretos chegou com força aos departamentos jurídicos, exigindo dos profissionais uma nova postura diante da gestão.
Atualmente, dominar apenas o conhecimento técnico do Direito já não basta. O verdadeiro diferencial está em aplicar práticas de administração para tornar o jurídico mais eficiente, estratégico e alinhado aos objetivos da empresa.
Entre esses conceitos de gestão, um dos mais relevantes é o de alavancagem operacional — que, em linhas gerais, trata da relação entre os custos fixos do setor e sua capacidade de produzir resultados.
Entender esse mecanismo pode ajudar o jurídico a expandir sua atuação sem necessariamente elevar os custos na mesma proporção.
Neste texto, você vai entender o que é alavancagem operacional, como aplicá-la no contexto jurídico e por que a tecnologia é a chave para colocar esse conceito em prática de forma sustentável.
A alavancagem operacional é um conceito financeiro que descreve o quanto o lucro operacional de uma empresa pode variar em resposta a mudanças na sua receita. Essa variação está diretamente ligada à estrutura de custos do negócio, ou seja, à proporção entre custos fixos e custos variáveis.
Empresas com alta alavancagem operacional têm uma grande parcela de custos fixos (como salários, infraestrutura e tecnologia) e uma proporção menor de custos variáveis.
Isso significa que, uma vez que esses custos fixos estejam cobertos, qualquer aumento na receita tende a gerar um crescimento mais acelerado do lucro, pois os custos adicionais para produzir ou entregar mais são relativamente baixos.
O cálculo da alavancagem operacional é feito por meio do Grau de Alavancagem Operacional (GAO), uma medida da sensibilidade do lucro operacional (EBIT) em relação à variação na receita. Assim:
GAO = Margem de Contribuição/Lucro Operacional (EBIT)
Onde:
Custos fixos são aqueles que independem da quantidade de produtos elaborados. Incluem, por exemplo, o preço do aluguel do escritório, os salários dos colaboradores, a compra de máquinas e outros.
Já os custos variáveis são aqueles que dependem diretamente da quantidade de produtos elaborados ou comercializados. Incluem, por exemplo, despesas com matéria-prima, armazenamento, transporte e outros.
Um jeito fácil de identificar o que são custos fixos e o que são custos variáveis na sua rotina é fazer a seguinte pergunta: se nada fosse produzido no mês, aquela despesa ainda existiria?
Em relação a salários, por exemplo, mesmo que nada fosse elaborado, esse valor ainda seria devido aos colaboradores. Então, trata-se de um custo fixo. Porém, no caso de gastos com frete, nada seria pago se nenhuma unidade fosse enviada. Por isso, esse é um custo variável.
Uma organização tem alta alavancagem operacional quando os custos variáveis são relativamente baixos, de forma que o aumento das entregas só tem um efeito: a diluição dos custos fixos ao longo da produção.
Para entender melhor como a alavancagem operacional funciona no dia a dia das empresas, vamos aplicar o cálculo do Grau de Alavancagem Operacional (GAO) em dois setores distintos: a indústria cervejeira, que costuma operar com alta alavancagem, e o varejo, que normalmente apresenta baixa alavancagem.
A partir de dados simples, você verá como o GAO revela o impacto que o crescimento da receita pode ter sobre o lucro operacional em diferentes estruturas de custos.
A indústria cervejeira é um setor com alta alavancagem operacional, especialmente em empresas de médio e grande porte. Isso porque grande parte dos seus custos está concentrada na estrutura fixa, como equipamentos de produção, tanques de fermentação, sistemas de refrigeração, laboratórios de controle de qualidade e logística interna.
Uma vez que toda essa estrutura está operando, o custo adicional para produzir mais unidades (custos variáveis, como matéria-prima, garrafas ou latas, rótulos e distribuição) é relativamente baixo em comparação com o investimento fixo.
Ou seja: quanto maior o volume de produção, menor é o custo fixo por unidade produzida — o que torna o negócio mais rentável.
Agora vamos colocar esse exemplo na ponta do lápis:
Fórmula:
GAO = Margem de Contribuição / Lucro Operacional (EBIT)
Lembrando que:
Imagine uma cervejaria que tem R$800.000 de custos fixos mensais, e um custo variável de R$1,50 por litro produzido. Cada litro é vendido por R$6,00.
Cenário 1: Produção de 50.000 litros/mês
Cenário 2: Produção de 200.000 litros/mês
Esse resultado mostra que para cada 1% de aumento na receita, o lucro operacional tende a crescer até 9% — uma alavancagem bastante alta, típica de setores com estrutura fixa robusta e custos variáveis baixos.
Nesse exemplo, a estrutura de custos se manteve estável, mas a produção quadruplicou. Com isso, os custos fixos foram diluídos e a empresa saiu do prejuízo para o lucro — um ganho expressivo de margem via alavancagem operacional.
O setor varejista, de forma geral, apresenta baixa alavancagem operacional. Isso ocorre porque, à medida que o volume de vendas aumenta, os custos variáveis crescem quase na mesma proporção, dificultando a diluição dos custos fixos.
No varejo, cada nova venda costuma exigir mais reposição de estoque, mais embalagens, mais logística, mais mão de obra temporária e até ampliação da estrutura física. Dessa forma, mesmo com o aumento das receitas, o lucro não cresce de forma tão acelerada quanto em setores de alta alavancagem.
Ou seja, a estrutura de custos não permite que o crescimento da receita se converta automaticamente em ganho operacional expressivo.
Colocando na ponta do lápis…
Fórmula:
GAO = Margem de Contribuição / Lucro Operacional (EBIT)
Lembrando que:
Imagine uma loja de roupas que possui custos fixos de R$30.000 por mês (aluguel, equipe, energia, etc.) e custos variáveis de R$40 por unidade vendida. Cada peça é vendida por R$100.
Cenário 1: venda de 500 unidades/mês
Cenário 2: venda de 800 unidades/mês
Neste caso, mesmo com um aumento de 60% nas vendas, o lucro cresceu em menor proporção. O grau de alavancagem operacional é baixo, pois os custos variáveis acompanharam de perto o crescimento da receita.
Departamentos jurídicos, por natureza, possuem um alto volume de custos fixos, como salários, infraestrutura e sistemas de gestão. Para melhorar a eficiência sem elevar proporcionalmente as despesas, é necessário ampliar a capacidade de entrega sem aumentar esses custos na mesma proporção.
Isso significa adotar estratégias que permitam um maior volume de análises, pareceres, contratos e consultorias sem precisar expandir a equipe ou sobrecarregar os profissionais.
O primeiro passo para entender a alavancagem operacional do jurídico é identificar qual é o produto do setor. Depois, precisamos visualizar os custos variáveis e fixos e, por fim, verificar como eles se articulam com as entregas da área.
Os principais produtos do departamento Jurídico são:
Pode-se incluir nessa linha os resultados da atuação de escritórios externos, que também entram na conta da área.
O fator mais relevante nessa conta são os salários dos advogados. Esse custo, em geral, é fixo na parte em que não depende da quantidade de entregas.
Os casos de custos variáveis surgem em cenários específicos, como a bonificação por meta atingida ou ainda com o pagamento de honorários aos escritórios externos. Essas despesas dependem das entregas e podem assumir formas e valores muito diversos a critério da empresa.
A articulação entre produto e custo é mais complexa no caso do departamento jurídico. Isso porque o valor monetário das entregas é difícil de mensurar, embora o valor organizacional seja imenso. A melhor forma de analisar essa relação é, portanto, contrapondo custo por entrega.
Quando o custo fixo por entrega é baixo, a organização tem alta alavancagem. Por outro lado, se o custo fixo por entrega for alto, o setor tem baixa alavancagem. A melhor maneira de atingir o primeiro cenário é ou reduzindo custos ou aumentando a produtividade.
Leia também: KPIs para o Jurídico: como defini-los corretamente
No contexto do departamento jurídico, o GAO ajuda a entender se é possível expandir o volume de entregas (como contratos, pareceres, consultas ou revisões) sem aumentar proporcionalmente os custos fixos, como salários, infraestrutura e ferramentas de gestão.
Como os custos fixos tendem a ser predominantes no jurídico — em especial salários e licenças de sistemas —, aumentar a capacidade de entrega sem aumentar o time é uma forma de operar com alta alavancagem operacional.
Por outro lado, se a área não estiver estruturada, qualquer aumento de demanda vai exigir mais contratações ou gerar sobrecarga, elevando os custos e reduzindo a eficiência.
Colocando em números…
Imagine um departamento jurídico com as seguintes condições mensais:
Cenário 1: 300 entregas por mês
Cenário 2: 500 entregas por mês (com mesma estrutura de custos fixos)
Apesar do GAO cair, o lucro aumentou em mais de 250%, mostrando como o ganho de escala pode diluir custos fixos e gerar eficiência. Esse é o impacto direto da alavancagem operacional: produzir mais sem necessariamente gastar mais.
Melhorar a alavancagem operacional no departamento jurídico vai muito além de uma questão de eficiência interna. Trata-se de um fator estratégico que impacta diretamente a capacidade da empresa de mitigar riscos, tomar decisões com agilidade e manter sua competitividade no mercado.
No entanto, muitos departamentos jurídicos ainda enfrentam obstáculos que comprometem essa equação entre custos e entregas.
Em um ambiente corporativo cada vez mais pressionado por exigências regulatórias, demandas contratuais e metas de performance, a dependência de rotinas manuais e desorganizadas impede que o setor atue com foco estratégico.
Entre os principais desafios que dificultam a otimização da alavancagem operacional estão:
Esses fatores, combinados, comprometem a produtividade e mantêm o jurídico em um ciclo de alta carga de trabalho e baixo retorno operacional. A boa notícia é que esse cenário pode ser revertido.
A chave está em investir em tecnologia e automação. Com ferramentas adequadas, é possível estruturar fluxos padronizados, automatizar tarefas repetitivas, monitorar riscos em tempo real e gerar dados estratégicos. Isso reduz o custo por entrega, aumenta a capacidade operacional da equipe e melhora o posicionamento do jurídico como um verdadeiro parceiro de negócios.
O resultado? Mais entregas com menos esforço, mais controle com menos planilhas e mais valor estratégico com menos desgaste operacional. Ou seja, alavancagem operacional em ação.
Se a alavancagem operacional é a forma como custos fixos e variáveis se articulam em função da produção, melhorar esse fator passa por intervir nesses parâmetros.
A tecnologia é um custo fixo que provoca grande aumento de produtividade e, numa dimensão organizacional, também gera a redução geral de despesas. Por isso, tem sido a saída encontrada por muitos gestores de departamentos jurídicos para gerar resultados sem precisar pressionar seus colaboradores para aumentar a velocidade das entregas.
Como já dizia o ex-CEO da Intel, Andrew S. Grove, em seu livro "Gestão de Alta Performance":
"A automação é uma maneira de melhorar a alavancagem de todos os tipos de trabalho. Com a ajuda de máquinas, os seres humanos podem gerar mais output."
A principal vantagem do uso da tecnologia para gestão de contratos é suprimir a parte manual e burocrática do trabalho.
Mais do que um ganho de eficiência interna, o CLM (Contract Lifecycle Management) proporciona um diferencial competitivo para a empresa, impactando diretamente sua capacidade de negociação, conformidade regulatória e velocidade de fechamento de negócios.
Os benefícios estratégicos de realizar a gestão do ciclo de vida dos contratos para ganhar mais alavancagem operacional no jurídico incluem:
Saiba em detalhes como funciona a automatização de documentos ao ler sobre:
”Automatização de documentos: entenda o que é, como funciona e quais as vantagens”
Esses benefícios se traduzem na otimização na rotina dos profissionais do Direito. É o que aponta a pesquisa da Thomson Reuters, segundo a qual a automatização economizou 82% do tempo dos advogados.
Invista em tecnologia para aumentar a alavancagem operacional do setor Jurídico
Como você viu neste texto, o departamento Jurídico tem sido cada vez mais chamado a reduzir custos e aumentar a produtividade. Nesse contexto, os gestores precisam dominar conceitos importantes de administração que os auxiliam a tomar as decisões necessárias.
A lógica de alavancagem operacional é útil na medida em que estabelece a relação entre custos fixos e variáveis em função da produção do setor.
Transpondo esses parâmetros para o contexto dos advogados, identificamos que, ante custos fixos como salários, um aumento de entrega de análises, documentos e consultas poderia melhorar e muito a alavancagem do setor.
No contexto jurídico, onde despesas como salários e infraestrutura representam custos fixos significativos, o aumento da produção — isto é, a ampliação da entrega de análises, pareceres, contratos e consultorias — pode gerar um ganho operacional expressivo sem elevação proporcional dos custos.
É frequente, no entanto, que a única forma de incrementar as entregas do departamento pareça ser ou contratar mais colaboradores ou pressionar os que já estão ali por resultados mais rápidos. Nem sempre a primeira opção está disponível e a segunda certamente causa grandes prejuízos a todos os envolvidos.
A solução mais eficiente e sustentável para otimizar a alavancagem operacional está no investimento em tecnologia e automação no setor jurídico. Ferramentas especializadas permitem estruturar fluxos de trabalho, reduzir o tempo dedicado a tarefas repetitivas e garantir a padronização de documentos e processos.
Dessa forma, o aumento da produtividade ocorre sem a necessidade de acréscimo proporcional de custos, melhorando a eficiência operacional e liberando os profissionais para atividades de maior valor estratégico.
O netLex é uma plataforma desenvolvida para transformar a gestão de contratos e fluxos de trabalho no setor jurídico. Com soluções de automação inteligentes, ele permite que seu departamento jurídico amplie a capacidade de entrega sem comprometer a qualidade ou aumentar a sobrecarga da equipe.
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