A pressão por redução de custos e apresentação de resultados chegou ao jurídico, mas poucos advogados estão preparados para enfrentá-la.
A excelência e o domínio do Direito não são mais critérios para distinguir entre profissionais de alta performance. O verdadeiro diferencial agora é buscar formas de profissionalizar a gestão no Jurídico, o que passa por compreender alguns conceitos de administração de pessoas e projetos. Um deles é o de “Alavancagem Operacional”.
Nesse texto, você terá uma visão geral do que é Alavancagem Operacional, como esse conceito se aplica ao departamento Jurídico e porque a melhor forma de implementá-lo na sua rotina é investindo em tecnologia.
O que é alavancagem operacional?
A alavancagem operacional é um conceito financeiro que mede o impacto da variação nas receitas sobre o lucro operacional de uma empresa, considerando a estrutura de custos do negócio.
Empresas com alta alavancagem operacional têm custos fixos elevados e custos variáveis relativamente baixos, o que significa que um aumento nas vendas pode resultar em um crescimento desproporcional no lucro operacional.
Qual a diferença entre custos fixos e custos variáveis?
Custos fixos são aqueles que independem da quantidade de produtos elaborados. Incluem, por exemplo, o preço do aluguel do escritório, os salários dos colaboradores, a compra de máquinas e outros.
Já os custos variáveis são aqueles que dependem diretamente da quantidade de produtos elaborados ou comercializados. Incluem, por exemplo, despesas com matéria-prima, armazenamento, transporte e outros.
Um jeito fácil de identificar o que são custos fixos e o que são custos variáveis na sua rotina é fazer a seguinte pergunta: se nada fosse produzido no mês, aquela despesa ainda existiria? Em relação a salários, por exemplo, mesmo que nada fosse elaborado, esse valor ainda seria devido aos colaboradores. Então, trata-se de um custo fixo. Porém, no caso de gastos com frete, nada seria pago se nenhuma unidade fosse enviada. Por isso, esse é um custo variável.
Uma organização tem alta alavancagem operacional quanto os custos variáveis são relativamente baixos, de forma que o aumento das entregas só tem um efeito: a diluição dos custos fixos ao longo da produção.
Exemplo 1: Alavancagem operacional aplicada à indústria
A indústria da telefonia investe na infraestrutura de distribuição de sinal, o que é um considerável custo fixo. Porém, uma vez construídas as torres de transmissão, o custo variável pela inclusão de um novo acesso é baixo. Por tanto, é possível expandir a base de clientes sem aumentar as despesas, diluindo melhor os valores fixos. Assim, esse é um setor com alta alavancagem operacional.
Noutro giro, uma organização tem baixa alavancagem operacional quando, proporcionalmente, os custos variáveis são altos, e o aumento da produção leva ao incremento desses custos. Nesse caso, nem a diluição das despesas fixas vai ser suficiente para otimizar os gastos, porque se somam ainda os custos variáveis.
Exemplo 2: Alavancagem operacional aplicada ao Varejo
O varejo é um setor com baixa alavancagem operacional, em geral. Isso acontece porque, com o aumento dos itens vendidos, torna-se necessário expandir também a capacidade de estoque das unidades, incrementar as despesas com frete e até mesmo com a embalagem, por exemplo. Ou seja: o aumento da produção leva diretamente ao aumento dos custos variáveis, e a diluição dos gastos em geral não se opera com tanta eficiência.
É possível calcular a alavancagem com fórmulas e análises mais sofisticadas. Porém, para fins deste texto introdutório, é preciso entender somente que, em qualquer dos dois cenários, seja de baixa ou de alta alavancagem, investimentos em produtividade valem a pena para expandir as atividades e alcançar novos mercados.
Como calcular a alavancagem operacional?
O cálculo da alavancagem operacional é feito por meio do Grau de Alavancagem Operacional (GAO), que mede a sensibilidade do lucro operacional (EBIT) em relação à variação na receita.
GAO= Lucro Operacional (EBIT)/ Margem de Contribuição
No qual:
- Margem de Contribuição = é obtida por meio da equação Receita – Custos Variáveis
- EBIT = Receita – Custos Fixos – Custos Variáveis
Como a alavancagem operacional pode ser aplicada ao setor Jurídico?
Departamentos jurídicos, por natureza, possuem um alto volume de custos fixos, como salários, infraestrutura e sistemas de gestão. Para melhorar a eficiência sem elevar proporcionalmente as despesas, é necessário ampliar a capacidade de entrega sem aumentar esses custos na mesma proporção.
Isso significa adotar estratégias que permitam um maior volume de análises, pareceres, contratos e consultorias sem precisar expandir a equipe ou sobrecarregar os profissionais.
O primeiro passo para entender a alavancagem operacional do jurídico é identificar qual é o produto do setor. Depois, precisamos visualizar os custos variáveis e fixos e, por fim, verificar como eles se articulam com as entregas da área.
Os principais produtos do departamento Jurídico são:
- análises de contingências, risco e compliance;
- contratos e documentos elaborados;
- consultas prestadas aos demais setores da empresa.
Pode-se incluir nessa linha os resultados da atuação de escritórios externos, que também entram na conta da área.
E como medir o custo desses produtos?
O fator mais relevante nessa conta são os salários dos advogados. Esse custo, em geral, é fixo na parte em que não depende da quantidade de entregas.
Os casos de custos variáveis surgem em cenários específicos, como a bonificação por meta atingida ou ainda com o pagamento de honorários aos escritórios externos. Essas despesas dependem das entregas e podem assumir formas e valores muito diversos a critério da empresa.
A articulação entre produto e custo é mais complexa no caso do departamento jurídico. Isso porque o valor monetário das entregas é difícil de mensurar, embora o valor organizacional seja imenso. A melhor forma de analisar essa relação é, portanto, contrapondo custo por entrega.
Quando o custo fixo por entrega é baixo, a organização tem alta alavancagem. Noutro giro, se o custo fixo por entrega for alto, o setor tem baixa alavancagem. A melhor maneira de atingir o primeiro cenário é ou reduzindo custos ou aumentando a produtividade.
Leia também: KPIs para o Jurídico: como defini-los corretamente
Como funciona o grau de alavancagem operacional no jurídico?
O Grau de Alavancagem Operacional (GAO) mede o impacto da estrutura de custos fixos e variáveis na produtividade de um setor. Em outras palavras, ele indica o quanto a variação na produção ou no volume de serviços prestados pode afetar os resultados financeiros sem um aumento proporcional dos custos.
No contexto do departamento jurídico, o GAO indica a capacidade da área de aumentar sua produtividade sem elevar proporcionalmente os custos fixos, como salários, infraestrutura e sistemas.
No jurídico, o custo fixo é predominante, pois a maior parte das despesas está relacionada a salários e infraestrutura. Assim, um aumento na capacidade de entrega (como mais análises contratuais, pareceres ou revisões) sem um acréscimo proporcional de custos significa que o setor está operando com alta alavancagem operacional.
Porém, se o jurídico não otimiza seus processos, qualquer aumento na demanda exigirá contratações ou sobrecarga da equipe, elevando os custos e reduzindo a eficiência.
Quais os desafios do setor jurídico na otimização da alavancagem?
A otimização da alavancagem operacional no departamento jurídico não é apenas uma questão interna da área — ela afeta diretamente a eficiência, a mitigação de riscos e a competitividade da empresa como um todo.
Em um cenário no qual as demandas regulatórias e contratuais são cada vez mais complexas, a dependência de trabalho manual e burocrático compromete a capacidade do jurídico de atuar estrategicamente.
Entre os principais desafios que reduzem a alavancagem operacional do jurídico e impactam o desempenho do negócio, destacam-se:
- Processos desorganizados e descentralizados, com solicitações chegando por múltiplos canais sem padronização (-mail, whatsapp, telefone, pessoalmente), gerando gargalos e retrabalho;
- Análises repetitivas e manuais de cada solicitação, que consomem tempo da equipe e limitam a capacidade de atender demandas estratégicas;
- Falta de rastreabilidade e controle, dificultando a gestão do histórico contratual, das negociações e das obrigações regulatórias;
- Baixa visibilidade sobre riscos contratuais, o que pode resultar em multas, penalidades e exposição jurídica desnecessária;
- Ausência de dados estruturados para decisões estratégicas, limitando a visão da empresa sobre tendências, riscos e oportunidades.
Todos esses fatores geram baixa produtividade. Na equação entre custos e entrega, isso prejudica a alavancagem operacional do departamento Jurídico.
Reverter esse cenário, conciliando a sustentabilidade da empresa com a satisfação do time, passa por investir em soluções tecnológicas.
Como melhorar a alavancagem operacional do departamento jurídico?
Se a alavancagem operacional é a forma como custos fixos e variáveis se articulam em função da produção, melhorar esse fator passa por intervir nesses parâmetros.
A tecnologia é um custo fixo que provoca grande aumento de produtividade e, numa dimensão organizacional, também gera a redução geral de despesas. Por isso, tem sido a saída encontrada por muitos gestores de departamentos jurídicos para gerar resultados sem precisar pressionar seus colaboradores para aumentar a velocidade das entregas.
Como já dizia o ex-CEO da Intel, Andrew S. Grove, em seu livro "Gestão de Alta Performance":
"A Automação é uma maneira de melhorar a alavancagem de todos os tipos de trabalho. Com a ajuda de máquinas, os seres humanos podem gerar mais output."
A principal vantagem do uso da tecnologia para gestão de contratos é suprimir a parte manual e burocrática do trabalho.
Mais do que um ganho de eficiência interna, o CLM (contract lifecycle management) proporciona um diferencial competitivo para a empresa, impactando diretamente sua capacidade de negociação, conformidade regulatória e velocidade de fechamento de negócios.
Os benefícios estratégicos de realizar a gestão do ciclo de vida dos contratos para ganhar mais alavancagem operacional no jurídico incluem:
- Redução de riscos e aumento da segurança jurídica, garantindo que todas as obrigações contratuais sejam monitoradas e cumpridas;
- Aceleração das operações comerciais, com contratos processados mais rapidamente e menos gargalos em aprovações;
- Padronização dos documentos, garantindo a utilização das versões mais atualizadas e completas, permitindo a redução da burocracia, mas também minimizam erros humanos e trazem mais agilidade no fechamento de acordos;
- Extração automática de dados (como prazos e valores, acesse dados estruturados em segundos, eliminando tarefas manuais) diretamente dos documentos para geração de inteligência;
- Criação de histórico de comunicações e de versões dos documentos, para fins de auditoria e compliance.
- Geração de inteligência de negócios, com extração de dados estruturados para embasar decisões estratégicas e otimizar futuras negociações;
- Maior previsibilidade e controle financeiro, evitando custos desnecessários por descumprimentos contratuais ou oportunidades perdidas;
- Fortalecimento da governança e do compliance, garantindo conformidade com regulamentações e políticas internas.
Saiba em detalhes como funciona a automatização de documentos ao ler sobre ”automatização de documentos: entenda o que é, como funciona e quais as vantagens”
Esses benefícios se traduzem na otimização na rotina dos profissionais do Direito. É o que aponta a pesquisa da Thomson Reuters, segundo a qual a automatização economizou 82% do tempo dos advogados.
Invista em tecnologia para aumentar a alavancagem operacional do setor Jurídico
Como você viu neste texto, o departamento Jurídico tem sido cada vez mais chamado a reduzir custos e aumentar a produtividade. Nesse contexto, os gestores precisam dominar conceitos importantes de administração que os auxiliam a tomar as decisões necessárias.
A lógica de Alavancagem Operacional é útil na medida em que estabelece a relação entre custos fixos e variáveis em função da produção do setor. Transpondo esses parâmetros para o contexto dos advogados, identificamos que, ante custos fixos como salários, um aumento de entrega de análises, documentos e consultas poderia melhorar e muito a alavancagem do setor.
No contexto jurídico, onde despesas como salários e infraestrutura representam custos fixos significativos, o aumento da produção — isto é, a ampliação da entrega de análises, pareceres, contratos e consultorias — pode gerar um ganho operacional expressivo sem elevação proporcional dos custos.
É frequente, no entanto, que a única forma de incrementar as entregas do departamento pareça ser ou contratar mais colaboradores ou pressionar os que já estão ali por resultados mais rápidos. Nem sempre a primeira opção está disponível e a segunda certamente causa grandes prejuízos a todos os envolvidos.
A solução mais eficiente e sustentável para otimizar a alavancagem operacional está no investimento em tecnologia e automação no setor jurídico. Ferramentas especializadas permitem estruturar fluxos de trabalho, reduzir o tempo dedicado a tarefas repetitivas e garantir a padronização de documentos e processos.
Dessa forma, o aumento da produtividade ocorre sem a necessidade de acréscimo proporcional de custos, melhorando a eficiência operacional e liberando os profissionais para atividades de maior valor estratégico.
O netLex é uma plataforma desenvolvida para transformar a gestão de documentos e fluxos de trabalho no setor jurídico. Com soluções de automação inteligentes, ele permite que seu departamento jurídico amplie a capacidade de entrega sem comprometer a qualidade ou aumentar a sobrecarga da equipe.
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