No setor jurídico, é possível identificar diversas ondas de renovação que trouxeram intercâmbio com outras áreas de conhecimento de forma mais ou menos intensa.
Um movimento relativamente recente, impulsionado por uma demanda crescente de aumento da eficiência e simplificação, é o uso de metodologias e técnicas de design para o desenvolvimento de produtos e para a prestação de serviços jurídicos.
No texto de hoje você vai entender:
- Por que falar em Design para profissionais do Direito
- Como funciona o Design Thinking
- Como advogados podem aplicar o Design Thinking
Vamos lá?
Por que falar em Design para profissionais do Direito?
Aqui, vale lembrar da visão de Herbert Alexander Simon [1] de que o design é um processo ou método por meio do qual se altera ou ajusta o curso de uma situação para solucionar um problema. Ser designer, portanto, significa, em uma de suas concepções, alterar, mudar ou ajustar um objeto, fato ou comportamento para obter uma solução.
Uma metodologia muito utilizada por designers e que tem robusta aplicação aos serviços e produtos jurídicos é o design thinking. Essa abordagem é famosa por ter uma perspectiva muito focada em pessoas e na experiência do usuário permitindo uma organização segura e eficiente de processos criativos.
Grandes e relevantes empresas ao redor de todo o mundo utilizam essa metodologia para mapear desafios e solucionar problemas. Sendo que há estudos que apontam que o design thinking é capaz de incrementar o desempenho das empresas [2].
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Mas afinal, como funciona o design thinking?
O design thinking é um processo intencional para chegar a algo novo. É uma metodologia (ou uma ideia, estratégia, mentalidade) que organiza o fluxo criativo com a finalidade de permitir o desenvolvimento de soluções inovadoras para problemas e desafios [3]. Pode ser utilizado em qualquer área e ramo de atuação, especialmente no Direito.
Segundo a IDEO, o design thinking promove uma mudança de mentalidade, trazendo maior foco no ser humano (human centered), colaboração, otimismo e experimentação. E o faz por meio de cinco fases:
Essas etapas, resumidamente, passam pela compreensão sobre o usuário e de suas dores. A partir desse entendimento, define-se qual desafio será solucionado e passa-se a listar o maior número possível de ideias. Ato contínuo, avalia-se o que é executável (desejável, praticável, viável) e desenvolvem-se protótipos, que serão futuramente testados com clientes e aprimorados com base no feedback recebido.
Como advogados podem aplicar o Design Thinking?
O processo criativo desenvolvido com amparo no design thinking passa pelo acolhimento de erros, percebendo-os como oportunidades de aprendizado e crescimento. Por isso a sua relevância para a promoção de um ambiente inovador no Direito.
Sob essa perspectiva, o uso da metodologia do design thinking no ambiente jurídico permite agregar a esse setor tão relevante os pilares de (i) foco nas pessoas, (ii) colaboração e (iii) iteração, através dos inputs técnicos e metodológicos do design.
Entenda mais sobre cada um desses pilares abaixo:
- Foco nas pessoas, porque se volta para a resolução de problemas enfrentados por estas. É por meio da superação desses desafios que se criam novos produtos, se desenvolvem e se aprimoram processos, ocorre a prestação de serviços e se estabelecem novos modelos de negócios.
- Colaborativo, porque ocorre a partir de um processo mútuo de aprendizado e treinamento prático. Assim, ele resulta da interação entre o prestador do serviço (aquele que vai desenvolver a solução) e o usuário (aquele que enfrenta o problema, possui uma dor), que deve ser ouvido e é a própria razão de ser daquilo que é desenvolvido .
- Iterativo, porque são desenvolvidos ciclos rápidos de ideação e prototipagem que dependem da validação do usuário. A solução se constrói com os feedbacks e com a melhora contínua do que se desenvolve (ou do serviço que é prestado).
Justamente para contemplar e a atender a todos esses pilares que o design thinking se desenvolve em etapas. Primeiro, uma jornada de empatia (ou descoberta), na qual se procura analisar e realmente entender o problema a ser solucionado (dor do usuário).
Uma vez que o problema é entendido, é preciso definir o escopo da atuação, que se segue de uma etapa de ideação. Nessa fase, se imagina e cria com liberdade múltiplas e inúmeras abordagens possíveis para o problema.
Depois é preciso construir a solução. Essa fase, denominada de prototipação, é o momento em que se desenvolve o produto ou serviço destinado a sanar a dor do usuário.
Finalmente, é preciso testar, testar e testar. Apresentar o protótipo para o destinatário, coletando as sugestões e feedbacks deste para a melhoria do que se oferece. É a fase em que se descobre se o produto ou serviço realmente é uma solução para os problemas do cliente.
Uma nova forma de pensar os serviços jurídicos
Nesse texto você conheceu um pouco mais sobre a metodologia do design thinking, cujo foco é o usuário final do serviço, suas dores e objetivos.
Essa abordagens tem como propósito a criação de soluções jurídicas inovadoras das quais as pessoas tanto precisam. São diferenciais que podem ser desenvolvidos por profissionais do Direito nas mais diversas áreas e fases de carreira.
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[1] Premiado economista estadunidense a quem se atribui o emprego da noção de design como uma forma de pensar, em razão do tratamento dado ao tema em 1969, no livro “The Science of the Artificial”.
[2] Pesquisa “DMI: Design Vale Index”, conduzida em 2016 pelo The Design Management Institute.
[3] MAIA, Ana Carolina; et. al. Legal Design: criando documentos que fazem sentido para os usuários. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 23.