Há alguns anos, o termo “kanban” tomou o mundo corporativo. Mas, quase tudo que se difunde também acaba se diluindo. Assim, muito da estrutura e do sentido do Kanban como método de gestão se perdeu nesse processo.
Em 2002, décadas depois dos primeiros usos do Kanban no modelo just in time da Toyota, David Anderson, que liderava um time de desenvolvedores da Motorola, enfrentava um desafio:
“Como construir uma rotina de trabalho com um ritmo saudável e sustentável?”
Lá, Anderson era visto como o homem do “não”: ele tinha passado os últimos 10 anos dizendo “não” para demandas que sobrecarregariam seu time, em constante atrito com outros setores.
O motivo para isso era simples: na época, programadores eram frequentemente submetidos a volumes de demandas enormes, longos horários de trabalho e constantes cobranças. Aliás, essa realidade não é muito distante da que muitos times de advogados, compradores ou vendedores vivem ainda hoje.
Neste texto nós vamos rever um pouco do que você provavelmente já sabe sobre kanban, para depois adicionar alguns pontos importantes do método que ficaram perdidos na sua popularização.
Vamos lá?
Listei aqui quatro coisas que você provavelmente já sabe, ou ouviu falar, sobre kanban:
O Kanban é um método que parte da organização de tarefas usando cartões coloridos para indicar o caminho de uma atividade ao longo de um fluxo pré-definido de trabalho. Porém, como você vai ver mais a frente, essa é apenas a superfície do método Kanban.
A ideia de usar cartões para estruturar o trabalho dentro de grandes empresas veio com a Toyota, para implementar seu modelo just in time. Ao contrário do modelo da Ford, que se baseava na produção de itens para estoque, o modelo da Toyota só produzia sob demanda.
Assim, para evitar a produção de peças desnecessárias, uma área só começaria a atuar depois que a sua predecessora terminasse. Para visualizar o que estava acontecendo ao longo do fluxo de produção, eram usados kanbans.
Fonte: Toyota Global
Em 2002, David Anderson aplicou e aperfeiçoou este método em negócios que atuavam com desenvolvimento de software, inserindo-o no contexto das metodologias ágeis. É essa a construção de Kanban que foi se popularizando também para outras áreas do mercado.
O quadro do kanban pode ser dividido em colunas e linhas:
Num outro exemplo, veja o caso de um setor de Suprimentos: você pode criar uma linha para “RFPs” com colunas como “Preparação da RFP”, “Recebimento de propostas”, “Análise de propostas”, “Seleção do Fornecedor” e assim por diante.
Algumas das vantagens do Kanban são o aumento da transparência, produtividade e organização das atividades.
Esses benefícios são percebidos na prática.
A pesquisa “State of Kanban Report de 2022”, conduzida pela Kanbanize, evidenciou que 87% dos entrevistados entendiam que o Kanban era mais eficiente que outros métodos de organização já usados pela empresa.
Eles reportaram também:
O que está por trás de todo esse sucesso vai muito além dos cartões coloridos. Como você vai ver na próxima sessão deste texto, esses resultados decorrem de uma noção mais aprofundada do que é, de verdade, o método Kanban.
Em essência, o Kanban é sobre encontrar um ritmo de trabalho e de entregas que seja suficiente para a organização e saudável para os colaboradores. Muito mais que papeis coloridos, isso demanda interação entre áreas e entre colegas de trabalho, assim como priorização das demandas.
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Veja agora alguns detalhes sobre o Método Kanban que poucas pessoas conhecem, mas que são importantes para alcançar todo o potencial dessa forma de organização.
O termo “kanban”, com a letra minúscula, significa, em japonês, “cartão”, enquanto “Kanban" com a letra maiúscula, designa o método de gestão. Em essência, o “kanban” (com letra minúscula) é um dos instrumentos para adoção do “Kanban” (com letra maiúscula).
O primeiro passo para entender o método Kanban está no conceito de Kaizen. Em japonês, essa palavra significa “mudanças graduais”. O oposto de Kaizen é Kaikaku, ou “grandes mudanças”.
Dizer que Kaizen é o fundamento do Kanban significa, então, que este método é incremental, não revolucionário.
Para implementar o Kanban não é preciso (nem aconselhável) fazer grandes reformas nos procedimentos, mudar atribuições ou tarefas. Para começar, você vai precisar somente estabelecer alguns combinados iniciais com seu time e com o restante da empresa. Entenda mais nos próximos tópicos.
O segundo ponto importante para compreender o conceito de Kanban é visualizar a diferença entre “Push” e “Pull” de gestão de demanda:
Veja um exemplo:
O setor de Compras recebe solicitações de todas as áreas da empresa. Se eles operarem com base em “Push”, cada um desses setores vai impor a sua própria urgência e necessidade para os compradores. Isso os coloca na mesma situação na qual Anderson se via na gestão de um time de desenvolvedores na Motorola: sobrecarregados e insatisfeitos.
Porém, se esta área opera a partir de “Pull”, são os próprios compradores que, recebendo a demanda encaminhada por outros setores, fazem uma triagem e decidem o que será ou não priorizado, de acordo com os objetivos da empresa.
O Kanban é um sistema do tipo “Pull”, que pressupõe um constante processo de priorização e repriorização de atividades.
“Work in progress - WIP”, ou, em português, “Trabalho em progresso”, é tudo o que está em curso no quadro do kanban. Segundo Anderson, o sistema do Kanban funciona melhor quando esse número de tarefas é limitado.
A sua primeira reação provavelmente foi: mas eu não tenho como limitar o número de demandas que chegam em um departamento Jurídico, ou de Suprimentos, por exemplo.
Isso só acontece se você ainda usa o sistema “Push”, não o “Pull”. Se você usa o sistema “Pull”, você pode estabelecer um limite ao trabalho em progresso e não assumir novas demandas enquanto uma antiga não tiver sido solucionada.
Isso não significa, por óbvio, que tarefas urgentes ficaram de fora do quadro. Nesse caso, no entanto, é preciso entender:
“Qual atividade vai sair do quadro para que essa possa entrar?”
Assim, você mantém uma carga saudável de trabalho para todos os integrantes da sua equipe e toma controle do volume de demanda.
Para que essa limitação funcione bem, siga as seguintes dicas:
“Service Level Agreements” é um termo que ficou popularizado pela sua sigla: SLA. Porém, ao contrário do que muitos pensam, SLA não é equivalente a prazo de entrega. Para entender a diferença, pense na seguinte situação. Quando você viaja para uma cidade muito turística, em geral existem duas possibilidades:
Esse exemplo simples evidencia que serviços podem variar a depender do “nível” do ingresso que você comprou. No caso das atividades, a lógica é a mesma: é preciso estabelecer acordos sobre o “nível” de serviço em cada hipótese. Esses acordos são os SLAs.
Usualmente, esse SLA vai variar de acordo com o grau de relevância da tarefa para a empresa como um todo. Isso pode ser traduzido no Kanban, mudando a cor dos cartões ou a linha na qual eles são colocados, ajudando a priorizar atividades e organizar o fluxo de trabalho mobilizado em cada tipo de demanda.
Nas metodologias ágeis, são comuns as reuniões diárias antes do início do dia de trabalho. A proposta é que cada integrante do time responda três perguntas:
A ideia não é estimular o microgerenciamento, mas sim compartilhar dificuldades e atualizar os demais integrantes do grupo sobre o status das suas tarefas.
O quadro do Kanban ajuda muito nessa frente. O gestor pode, nesse caso, "walk the board", ou seja, conferir as atividades em cada coluna, engajando os colaboradores para resolver eventuais gargalos ou dificuldades.
Neste momento é que surgem os efeitos sociais positivos do método Kanban.
Quando a avaliação do fluxo de cada atividade é feita de forma transparente, todos os interessados conseguem visualizar o efeito de suas ações ou omissões e reorganizar suas prioridades.
Finalizar uma tarefa significa a mudança do card para outra coluna, gerando uma sensação boa de dever cumprido. Noutro giro, compartilhar dificuldades também abre a possibilidade de troca de experiências em busca de uma solução. Esses são apenas alguns dos impactos positivos de somar o quadro do Kanban às reuniões diárias do método ágil.
Agora que você entendeu um pouco mais sobre como o método Kanban funciona para além dos papéis coloridos, já está pronto para colocá-lo na prática. A boa notícia é que o netLex pode te ajudar nessa tarefa!
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