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Erro comum na negociação de contratos (e como evitá-lo)

Existe uma contradição grave entre o que as empresas consideram importante no contrato e o que efetivamente é negociado. Reverter esse cenário é o primeiro passo para construir parcerias de sucesso.

Quais são os termos e condições que mais dominam as negociações de contratos no mercado B2B? 

Foi a partir dessa pergunta que a World Commerce and Contracting Association, uma entidade global voltada à construção de boas práticas aplicáveis ao ciclo de vida dos contratos, identificou um dos principais motivos pelos quais empresas ao redor do mundo podem estar negociando seus acordos com o foco errado. 

Para responder a este questionamento, a organização conduziu entrevistas com integrantes de 1305 empresas, distribuídas em 59 países. Dentre os entrevistados, 52% atuavam no buy-side (suprimentos) e 48% no sell-side (vendas).

Enquanto alguns dos resultados já poderiam ser esperados por quem vive o contexto da negociação de contratos entre empresas, outros oferecem poderosos insights para melhoria dessa rotina corporativa. 

As cláusulas mais negociadas

 

Segundo a pesquisa, o grupo das cinco condições mais negociadas é capitaneado pela cláusula de limitação de responsabilidade. Na sequência vêm as regras sobre preço, cobrança e mudanças no valor, todas classificadas pelos entrevistados como “muito importantes”. Logo depois vêm as disposições que envolvem indenização, multas e as condições de encerramento do contrato, no escopo dos temas considerados “moderadamente importantes”.

Completando a lista das dez condições mais negociadas, na sexta posição vem as discussões sobre escopo, metas e especificações, seguida pela cláusula de pagamento e formas de pagamento, além do acordo sobre as garantias. Ao final, estão as cláusulas de cibersegurança e privacidade de dados e também a de propriedade intelectual. Todas elas estão elencadas no grupo das condições consideradas “moderadamente importantes”. 

Confira a tabela abaixo: 

Termos mais negociados
Limitação de responsabilidade
Preço, cobrança e mudanças no valor
indenização
multas
condições de encerramento do contrato
escopo, metas e especificações
pagamento e formas de pagamento
garantias
cibersegurança e privacidade de dados
propriedade intelectual
Fonte: WorldCC

 

A maior parte desses tópicos envolvem, em maior ou menor grau, alocação de risco. Discussões mais concretamente relacionadas à prestação, como preço e escopo, seriam a exceção a essa regra. De acordo com os pesquisadores, isso evidenciaria que continua firme e forte a tendência de negociar para “ou impor ou evitar completamente as consequências financeiras da falha na performance”. 

As cláusulas mais importantes

 

Das dez condições consideradas mais importantes, oito estão relacionadas ao objeto da prestação, e apenas duas à distribuição de riscos entre as partes. Isso evidencia que, na percepção dos entrevistados, o parâmetro para avaliar se uma cláusula é relevante ou não é o quanto ela contribui para a rotina de cumprimento do acordo.

São consideradas mais importantes as cláusulas de escopo, metas e especificações, seguido por preço, cobrança e mudanças no valor, além de condições de entrega e níveis de serviço. Somente em quinto lugar vem as disposições sobre responsabilidade das partes. Na sequência estão as regras para quitação, emendas e mudanças ao contrato, pagamento e formas de pagamento, especificações do produto e, apenas ao final, limitação de responsabilidade. 

Confira o resumo abaixo: 

Termos mais importantes
escopo, metas e especificações
Preço, cobrança e mudanças no valor
condições de entrega
níveis de serviço
responsabilidade das partes
quitação
emendas e mudanças ao contrato
pagamento e formas de pagamento
especificações do produto
limitação de responsabilidade

 

Contrastando as duas listas analisadas até agora, é interessante observar que os termos mais negociados nem sempre são os termos considerados mais importantes pelas partes do contrato.

Veja o comparativo abaixo. Estão marcadas em negrito as cláusulas que se repetem em ambas as listas.

Termos mais negociados Termos mais importantes
Limitação de responsabilidade escopo, metas e especificações
Preço, cobrança e mudanças no valor Preço, cobrança e mudanças no valor
indenização condições de entrega
multas níveis de serviço
condições de encerramento do contrato responsabilidade das partes
escopo, metas e especificações quitação
pagamento e formas de pagamento emendas e mudanças ao contrato
garantias pagamento e formas de pagamento
cibersegurança e privacidade de dados especificações do produto
propriedade intelectual limitação de responsabilidade

 

Na tentativa de antecipar um possível conflito e distribuir, de antemão, os riscos desse cenário adversarial, os contratantes acabam deixando em segundo plano as regras que efetivamente serão necessárias para fazer a parceria funcionar. Como conclui a pesquisa, “isso nos ajuda a entender porque essas relações acabam resultando em amargor, ou até em divórcio”.

Cláusulas mais disputadas

 

Embora nem todas as disputas contratuais terminem em litígio, especialmente no cenário empresarial, a pesquisa identificou a existência de termos que, com frequência, causam discordância entre as partes. Nesse tema, 55% dos entrevistados apontaram que pelo menos 3% dos seus contratos geram algum grau de insatisfação para os envolvidos.

Em primeiro lugar estavam as disposições sobre preço, cobrança e mudanças no valor, seguidos pelas condições de entrega; níveis de serviço; escopo, metas e especificações, e só em quinto lugar multas. No bloco seguinte estavam as cláusulas sobre quitação, emendas e mudanças ao contrato; força maior, condições de encerramento do contrato, e pagamento atrasado. 

Termos mais disputados
Preço, cobrança e mudanças no valor
condições de entrega
níveis de serviço
escopo, metas e especificações
multas
quitação
emendas e mudanças ao contrato
força maior
condições de encerramento do contrato
pagamento atrasado

 

Vale observar que a lista analisada tem pelo menos quatro pontos em comum com os termos mais negociados. A pesquisa indica que, em relação a essas disposições e conhecendo esses pontos de disputa de antemão, as empresas podem considerar rever suas diretrizes de negociação com o objetivo de evitar cenários de tensão no futuro.

Veja o comparativo. Novamente, estão destacadas as cláusulas que se repetem.

Termos mais negociados Termos mais disputados
Limitação de responsabilidade Preço, cobrança e mudanças no valor
Preço, cobrança e mudanças no valor condições de entrega
indenizaçãoníveis de serviço níveis de serviço
multas escopo, metas e especificações
condições de encerramento do contrato multas
escopo, metas e especificações quitação
pagamento e formas de pagamento emendas e mudanças ao contrato
garantias força maior
cibersegurança e privacidade de dados condições de encerramento do contrato
propriedade intelectual pagamento atrasado

 

Uma outra constatação interessante é: os termos mais importantes, que nem sempre recebem muita atenção na etapa de negociação, acabam voltando como pontos de disputa durante a execução do contrato.

Veja o comparativo com destaques abaixo: 

Termos mais importantes Termos mais disputados
escopo, metas e especificações Preço, cobrança e mudanças no valor
Preço, cobrança e mudanças no valor condições de entrega
condições de entrega níveis de serviço
níveis de serviço escopo, metas e especificações
responsabilidade das partes multas
quitação quitação
emendas e mudanças ao contrato emendas e mudanças ao contrato
pagamento e formas de pagamento força maior
especificações do produto condições de encerramento do contrato
limitação de responsabilidade pagamento atrasado

 

Ou seja, o problema identificado acima, de focar em distribuir riscos para um possível cenário de conflito, acaba deixando em segundo plano o consenso sobre pontos necessários para o funcionamento da parceria. Isso faz com que esses elementos ressurjam no futuro, mas agora como fatores de disputa. 

Cláusulas mais renegociadas

 

A Pandemia de COVID-19 forçou a revisão de um sem número de contratos no contexto corporativo. Esse cenário foi refletido na pesquisa analisada.

Quando perguntados sobre as cláusulas mais renegociadas, os entrevistados destacaram disposições sobre preço, cobrança e mudanças no valor, limitação de responsabilidade, cibersegurança e privacidade de dados, força maior e indenização. No segundo bloco estão condições de encerramento do contrato, emendas e mudanças ao contrato, pagamento e formas de pagamento, multas e condições de entrega. 

Termos mais renegociados
Preço, cobrança e mudanças no valor
limitação de responsabilidade
cibersegurança e privacidade de dados
força maior
indenização
condições de encerramento do contrato
emendas e mudanças ao contrato
pagamento e formas de pagamento
multas
condições de entrega

 

Contrastando esta lista ao conjunto de termos mais mais disputados e mais negociados, percebe-se que existem termos que são conflituosos do início ao fim do ciclo de vida do contrato, como preço, cobrança e mudanças de valor; multas; e condições de encerramento do contrato. Em relação a essas regras, é recomendável a revisão das cláusulas padrão para tentar evitar esse constante estado de insatisfação.

Veja o comparativo:

Termos mais negociados Termos mais disputados Termos mais renegociados
Limitação de responsabilidade Preço, cobrança e mudanças no valor Preço, cobrança e mudanças no valor
Preço, cobrança e mudanças no valor condições de entrega limitação de responsabilidade
indenização níveis de serviço cibersegurança e privacidade de dados
multas escopo, metas e especificações força maior
condições de encerramento do contrato multas indenização
escopo, metas e especificações quitação condições de encerramento do contrato
pagamento e formas de pagamento emendas e mudanças ao contrato emendas e mudanças ao contrato
garantias força maior pagamento e formas de pagamento
cibersegurança e privacidade de dados condições de encerramento do contrato multas
propriedade intelectual pagamento atrasado condições de entrega

 

O erro mais comum: o que querem as empresas ao negociar seus contratos?

 

A pesquisa conduzida pela World Commerce and Contracting revela uma contradição grave em relação ao que as empresas entendem como importante na hora de negociar um contrato, e o que efetivamente é feito na prática.

Das 10 cláusulas consideradas mais relevantes no contrato, pelo menos 8 delas são referentes à prestação em si e descrevem regras que serão aplicadas na rotina da execução do contrato.

Ainda assim, das cláusulas que mobilizam mais atenção na etapa de negociação, apenas 3 delas têm essa relação direta com o cumprimento regular do contrato. Todas as outras são disposições cuja aplicação pressupõe, em alguma medida, inadimplemento. Além disso, toda essa concentração de esforços não necessariamente produz consensos, já que esses tópicos retornam nas renegociações, sendo que pelo menos 7 tipos de cláusulas mais revisitadas também supõem alguma falha na execução do acordo.

Como o foco não está na negociação das regras mais básicas para o dia a dia da parceria, esses tópicos retornam durante a execução do contrato, mas agora como pontos de disputa. Nesse sentido, 5 dos 10 cenários que concentram divergências são referentes às prestações em si. 

Porém, nem tudo está perdido.

O estudo conclui em tom de esperança, indicando que “talvez, o direcionamento mais fácil de implementar a partir dessa pesquisa seja considerar como as suas negociações podem mudar o foco de mais negociado para mais importante" e, assim, redimensionar a alocação de tempo e recursos para cláusulas que são efetivamente necessárias no sucesso da parceria. 

E você, também vive um cenário como esse? O primeiro passo para fazer o diagnóstico é entender quais são as cláusulas mais importantes, as mais negociadas, as mais disputadas e renegociadas na sua empresa. Se você não tem visibilidade sobre esses dados, venha conhecer o netLex! 

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Giuliana Rezende
Giuliana Rezende
Giuliana é advogada e mestranda em Direito pela UFMG. Além de ser apaixonada por tudo o que envolva as ciências jurídicas, também tem foco em gestão, economia e ESG. Combinando tudo isso, ela está sempre a procura de dados e abordagens inovadoras para mostrar todas as vantagens de uma gestão mais inteligente de contratos.